sábado, 30 de abril de 2011

Canais no Norte Fluminense

O empenho administrativo com a construção de canais, registrado pelos relatórios do presidente da Província, refletem um amplo movimento econômico regional, voltado para o desbravamento dos sertões do norte fluminense, para o aproveitamento de recursos naturais como madeira e, por consequência, o melhor uso das extensas e variadas vias aquáticas da região.

Na primeira metade do século XIX, os principais projetos foram o Canal Campos-Macaé, iniciado em 1837 e concluído em 1861, com mais de 100 quilômetros de extensão; o Canal de Cacimbas (1839), o Canal do Nogueira (iniciado em 1833) e o canal do Onça (1840). Seu impacto econômico foi grande, permitindo a exploração das vastas planícies do norte da província, e seu impacto ecológico ainda maior, facultando a drenagem de dezenas de lagoas e alagadiços.

A extensa rede de canais, vários deles com eclusas e bem construídos, foi tornada obsoleta pelo desenvolvimento das estradas de ferro. No século XX, terminaram incorporados à estrutura de drenagem e saneamento da região. Busca-se hoje o tombamento dos trechos remanescentes como bens culturais.

Arthur Soffiati. "Os Canais de Navegação do século XIX no Norte Fluminense". Boletim do Observatório Ambiental Alberto Lamego, n. 2. Campos, CEFET, jul/dez 2007.

Outras informações: http://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_Campos-Maca%C3%A9

A muralha do Paraíba

Outra obra que merece um detalhamento técnico preciso é a construção da muralha do Paraíba, necessária para evitar os danos provocados pelas cheias do rio. Na memória de todos ainda estava a grande enchente de 1833. A muralha deveria ter 1.275 palmos de comprimento e abrir-se em dois portos de 40 palmos. Paulino recomenda uma inspeção constante para garantir a qualidade dos materiais e informa que será realizada com cimento hydraulico. A despesa montaria a 45 contos de réis.

Volta a lembrar a Assembléia da conveniência da escavação de um novo canal, ligando Campos ao Porto das Caixas, na baía da Guanabara, passando por Macaé e São João. Os planos foram conduzidos pelo major Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde, mas seu falecimento imprevisto interrompeu os trabalhos. Nenhum documento foi encontrado em seus papéis.

Nesse infausto momento, por sinal, chegava a máquina de rossegar encomendada em Hamburgo por Bellegarde para a dragagem dos baixios da Lagoa de Araruama e que requeria a construção de uma barca para sua operação. Todo o trabalho foi interrompido, mas Paulino já aventa a hipótese de usar a máquina também em áreas de Niterói. O substituto de Bellegarde preferia usar uma draga do Arsenal de Marinha, mas Paulino ainda decidiria sobre a matéria.

Obras no Norte Fluminense

Paulino informa a Assembléia Provincial que as obras da Quarta Seção devem ser consideradas uma prioridade do governo, em função do péssimo estado das vias de comunicação. A geografia não ajuda, marcada por um excesso de cursos d'água, terrenos arenosos, lagoas e incerteza quanto à linha do litoral. A administração, por isso mesmo, deve fazer a sua parte e a arrematação das obras na estrada que liga Niterói a Campos sera dividida em trechos. Com essa decisão, será mais fácil para os fazendeiros cujas propriedades estão às margas da via assumir as obras. O orçamento total atingia mais de 30 contos de réis.

Outra preocupação é com a construção do Canal do Nogueira, uma via aquática que começaria no Paraíba, passariam pelas lagoas de Maria do Pillar, do Tacuarussu e do Fogo até chegar, por meio de um córrego, ao chamado Brejo Grande. O relatório discute algumas alternativas técnicas para definir a inclinação das margens e sua profundidade e define um orçamento global de 36 contos de réis. Superior, como se vê, ao valor assignado à estrada terrestre ligando Campos à capital provincial.