quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Ministério dos irmãos

O Gabinete de 24 de julho tinha como Ministro do Império o deputado paulista Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva; seu irmão, Martim Francisco Ribeiro de Andrada, também deputado, era o ministro da Fazenda. Ambos, como é sabido, irmãos de José Bonifácio. Como Ministro do Império, o cargo mais importante do gabinete, Andrada Machado era o executor principal da revanche liberal.

Os irmãos Cavalcanti, senadores por Pernambuco, comandavam as pastas da Marinha (Antônio Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti, depois Visconde de Albuquerque) e da Guerra (Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, depois Visconde de Suassuna).

O ministério da Justiça, cargo político por excelência, foi entregue ao arqui-liberal, nêmesis dos Saquaremas, Antônio Paulino Limpo de Abreu, deputado por Minas Gerais, depois Visconde de Abaeté.

Por fim, na pasta dos Estrangeiros, outro líder decisivo da Maioridade, Aureliano de Souza Coutinho, depois Visconde de Sepetiba, deputado pelo Rio de Janeiro. Tornou-se rapidamente o foco da discreta reação ao radicalismo dos Andradas. Mais tarde, será acusado pelos liberais de ser instrumento das maquinações de Pedro II para derrubar o Gabinete. O Imperador era, então, um rapaz com 15 anos de idade.



Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado (1773-1845)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O governo da Maioridade

As Páginas d'História Constitucional do Brasil (1840-1848) foram publicadas em 1870, pela Garnier da rua do Ouvidor, várias décadas após o evento, mas sua versão para o fracasso do Gabinete liberal de 23 de julho permanece entre as mais consistentes. Mello Mattos começa pelos aspectos pessoais do gabinete, prossegue examinando suas intenções revanchistas e termina analisando as contradições políticas por elas geradas. Em suma, tentou exercer um poder que não tinha e não cumpriu com o que prometia.

A própria configuração do Gabinete de 23 de julho* exibia traços especiais: dois pares de irmãos eram ministros. Os irmãos Cavalcanti, representantes de Pernambuco, e os irmãos Andrada, parlamentares de São Paulo. Limpo de Abreu e Aureliano de Sousa Coutinho ocupavam as demais pastas. Se a presença de parentes não era objeto de censura, a fidelidade familiar certamente reduzia a flexibilidade política daquela configuração. Havia blocos bem definidos, unidos apenas pelo sucesso no patrocínio da Maioridade.

A disposição dos líderes do gabinete de usar o poder em toda a sua extensão também provocou problemas desde o seu início. O decreto das "calças e calções", regulando a vestimenta dos funcionários do Paço, entrou para o folclore político, mas polêmicas de fato foram nomeações para a presidência das províncias em direto antagonismo com as situações locais e, por fim, as célebres eleições do "cacete", quando todos os recursos foram usados para produzir uma Câmara afinada com o Gabinete.

A reação começará dentro do próprio Gabinete, quando uma hábil conspiração explorará um derradeiro e mais perigoso erro: a má gestão da situação político-militar no Rio Grande do Sul.


* Mello Mattos denomina o primeiro gabinete do Segundo Reinado como de "23 de julho". A literatura posterior prefere "24 de julho".