quarta-feira, 8 de julho de 2009

Página brilhante


Talvez a melhor descrição conceitual da política imperial, expressa no conflito entre liberais e conservadores, esteja contida em uma página brilhante de O Tempo Saquarema - A Formação do Estado Imperial, de Ilmar Rohloff de Mattos. Basta esse momento de clareza intelectual para que todo o marxismo universitário dos primeiros capítulos seja perdoado. Ou seja, esquecido.

Ilmar argumenta que o pensamento liberal jamais conseguiu escapar de uma contradição fundamental: como ofertar liberdade a uma sociedade sempre à beira do mandonismo, do poder local ou, para usar um termo contemporâneo, da apropriação privada do poder.

O chefe liberal que defendia as liberdades civis na Câmara era o mesmo que lutava para manter os portões de sua fazenda fora do alcance do braço da lei. Nos termos da política da Constituição de 1988, o mesmo deputado que defendia a redemocratização e a liberdade de imprensa patrocinava trens de alegria e o acúmulo de aposentadorias.

Em comparação, os conservadores não padeciam de tais inconsistências. Consolidar o poder do Estado era uma resposta completa ao problema da ordem legal interna, um projeto de ação tática, uma operação de geopolítica e, como será visto mais tarde, um instrumento de política externa. Desnecessário ressaltar que a questão do trabalho escravo, considerado intrinsecamente, é apenas um aspecto transitório nesse cenário. Os liberais brasileiros jamais conseguiram firmar reputação como defensores do império da lei. Essa fraqueza é tão fatal hoje como nos tempos do Ato Adicional.

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