sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Entretanto as atuais Esquadras vão prestando os serviços que delas se esperavam"

Não há muito o que mencionar sobre as seções da Guarda Nacional, Força Policial e Pedestres. O Relatório de 1837 do Presidente da Província chega perto do cômico ao relatar o volume de despesas destinadas aos armamentos da Guarda Nacional. Revelam mais sobre a incrível fascinação nacional com postos e hierarquias do que sobre o real estado da instrução militar, que muito dependia do trabalho voluntário. O mesmo vale para a Força Policial e para os Pedestres. Sobre estes, comenta o autor do Relatório:

"Não é só o receio do recrutamento existente, de que eles não estão isentos, a causa desse acontecimento. O diminuto vencimento diário de 320 réis, que lhes foi marcado, quando maior jornal ganha hoje qualquer operário, sem os trabalhos, comprometimentos e perigos a que eles tem de se sujeitar muito concorre para que recusem servir. Talvez mais voluntariamente se apresentasse se em vez de Pedestres de Comarcas, cuja extensão muitas vezes são obrigados a percorrer, o fossem de Termos ou Freguesias, empregando-se ordinariamente neles ou nestas em prender criminosos e escravos fugidos ou encontrados em contravenções de Posturas Policiais em em conduzir Ofícios de Autoridades e reunindo-se somente em qualquer ponto quando os Juízes de Direito o julgassem preciso para destruição de Quilombos ou outras importantes diligências" (Relatório, pág 17).

São trechos muito ilustrativos do grau de realismo de certa literatura sobre ordem repressiva, aparato de violência do Estado e outros aranzéis do mesmo tipo. Na mais rica província do Brasil imperial, os tais aparatos repressivos do Estado, mesmo quando paramilitares, eram recorrentemente subfinanciados. A existência de quilombos não era a excepcional manifestação de resistência, mas o resultado natural de escassas capacidades de vigilância e repressão. Quando os aranzéis são deixados de lado, pode-se bem imaginar quais eram os reais recursos da Ordem nessas décadas distantes. De todo modo, deve ser terrível viver em uma sociedade onde um policial ganha menos do que um operário especializado.

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