domingo, 7 de junho de 2009

''É sobretudo mui escasso o ordenado"

O relatório do Presidente da Província do Rio de Janeiro, Paulino José Soares de Souza, tratando de seu primeiro ano de gestão - 1836 -, enviado aos deputados da Assembléia Provincial começa com um traço notável: a defesa do aumento salarial para vários funcionários públicos. A começar dos servidores da Secretaria de Governo, que também atendiam a Assembléia.

"É sobretudo mui escasso o ordenado de 200 mil réis que tem o Correio, devendo ser pessoa de confiança e probidade, por depender dele a fiel e pontual entrega das ordens, muitas vezes importantes" (pág 1)

A melhor remuneração era necessária principalmente para os professores do ensino fundamental.

"A necessidade de medidas que tirem a instrução elementar do estado deplorável a que tem chegado há sido por vós palpada e reconhecida. Somente providenciais mui valentes e heróicas poderão fazer nascer e medrar entre nós a carreira do Magistério que, apesar de tão útil e tão nobre, tem estado entregue até agora à indiferença e talvez ao desprezo" (pág 2).

Havia apenas 17 alunos na Escola Normal e não seria possível aumentá-los sem estímulo salarial. Perguntava Paulino como esperar que jovens dedicassem dois anos de sua vida à Escola Normal para receber um salário de 400 mil réis?

"A educação ou o hábito empuxa, é verdade, a nossa mocidade para os empregos públicos; apenas vaga ou se cria algum, são inúmeros os pretendentes. Não se tem verificado isso, porém, com os lugares do Magistério, ou pelo diminuto ordenado que têm ou porque é trabalhoso e enfadonho o cumprimento de seus deveres. O caso é que existem cadeiras criadas há mais de 5 e 6 anos que nunca forão sequer pedidas." (pág 3).

Paulino também discorre sobre a manutenção do seminário de Jacuecanga, em perigo por conta da situação do Padre Antônio Ferreira Viçoso, que trabalhava sem receber há doze anos, tendo criado o seminário a pedido de Pedro I. Paulino pede dois contos de réis para sua manutenção em 1837.

Aproveitando o ensejo, passa ao exame da situação dos templos religiosos, cuja manutenção era custeada com recursos públicos. Nada menos que trágica era a situação de todas as Matrizes, onde se celebram os mysterios da religião de Estado. Não eram suficientes, portanto, os 6 contos de réis consignados no Orçamento.

Padre Viçoso (Peniche, 1787 - Mariana, 1875) não é um personagem ordinário, mas um celebrado religioso vicentino ligado ao Santuário do Caraça. Lê-se em sua biografia que as providências pedidas por Paulino em seu relatório não adiantaram muito, tendo retornado a Minas Gerais em 1837. O site da prefeitura de Angra dos Reis reconhece que sobraram apenas ruínas. O prédio atual é de construção recente.

(http://www.santuariodocaraca.com.br/peregrinacao/dom_vicoso2.php)



Imagem: Seminário de Jacuecanga.

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