segunda-feira, 11 de maio de 2009

7 de maio de 1857: Paulino disse não.


Ao final de abril, Caxias esgotou o seu fôlego e o gabinete finalmente caiu. Sem glória, como se dizia, sem pompa, fruto de um certo cansaço geral. Pedro II não tem mais escolha, depois da morte de Hermeto. Existe um único homem no país à altura da tarefa porque não hesita, porque não teme usar o poder, é a escolha natural. O Imperador sabia disso, assim como todos os outros. Naquele momento, restava uma carta apenas: Paulino.

Enquanto seguia para o Paço, talvez saboreasse por antecipação uma consagração quase inevitável. Quem o olhasse de perto, entretanto, sentado a seu lado, ouvindo sua respiração, notaria sem dúvida mãos crispadas demais, o rosto distante de alguém que segue para cumprir uma obrigação desagradável. Por enquanto, só Paulino sabe que dirá não ao Imperador, mas ainda não está bem certo disso. Pensa, observa as ruas do Rio de Janeiro à noite.

Os meios políticos sabem que Paulino será convidado a formar o gabinete e governar o país. O Imperador, que já o fez Visconde do Uruguai espera dobrar mais um saquarema. Os amigos estão prontos a agir sob suas ordens e os adversários, em Minas Gerais ou São Paulo, em Montevidéu ou em Buenos Aires, sabem a quem devem temer. A posição que foi de Hermeto lhe será oferecida, mas Paulino, enquanto vai ao encontro do Imperador, já sabe que dirá não.

Depois, Paulino sabe que será o fim. Não tanto pela recusa em assumir o posto, mas pela condenação tácita das visões políticas do Imperador. Ele é teimoso, turrão e orgulhoso. Vai tomar como desfeita a seus planos pessoais. Paulino quer dar um exemplo. Não há compromisso possível em torno de certas coisas, pensa ele. Mesmo no Brasil, mesmo no Brasil.

A conversa com o Imperador não cumpriu nenhuma de suas expectativas. Ele perguntou muito da Europa e de Paris, Paulino assentira em comentar mais longamente o que vira, mas sobre política pouco se estenderam. O Imperador o consultou sobre sua disposição em assumir o governo e Paulino expôs suas razões para declinar. Logo passaram a outro assunto, sem uma frase sequer, dramática, a registrar na memória. Melhor assim, pensava ele, melhor assim.

Litografia: Pedro II por volta de 1850.

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