segunda-feira, 11 de maio de 2009

"O que não vier hoje, virá amanhã"

A 18 de julho de 1852 encerrava Paulino a última página da operação contra o ditador argentino, Juan Manuel Rosas, escrevendo a Paranhos, futuro Visconde do Rio Branco, em seu estilo inconfundível:

"O Sr. Honório foi feito Visconde, o Sr. Limpo de Abreu, Grã Cruz, o sr. Rodrigues Pontes dignitário da Rosa e V, Exa. comendador da mesma ordem. Não me satisfez este último despacho, tendo-me lembrado de outra coisa, mas V. Exa está no caminho das honras e o que não vier hoje, virá amanhã". José Antônio Soares de Souza, Honório Hermeto no Rio da Prata (Missão Especial de 1851/852). Brasiliana, volume 297, pág 269.

Tecnicamente, a missão de Honório - forçar os blancos a reconhecerem os tratados de 12 de outubro - foi cumprida com alguns parágrafos de uma carta do Barão de Caxias a seu colega general, Justo José Urquiza, presidente da Confederação Argentina. Como quem não quer nada, Caxias informou a Urquiza que, infelizmente, "passaria mais um inverno nessas campinas".

O lamento pessol de Caxias foi imediatamente compreendido por Urquiza: as tropas brasileiras continuariam no Uruguai e fariam valer os tratados pela força das armas, se fosse o caso. Urquiza, se quisesse mesmo apoiar os blancos, iria arriscar uma guerra com o Império, com o general Marques de Souza, os nove mil soldados sob Caxias e os atiradores prussianos do exército brasileiro.

Urquiza abandou os blancos que foram forçados gradativamente a recuar e aceitar os tratados, em piores condições. E ainda a aceitar a intermediação de Andrés Lamas, embaixador do Uruguai na Corte, mas amigo de fé e irmão camarada de Paulino.

Boa parte do gosto do livro de Soares de Souza é ver Paulino em ação, certeiro, mortal, com foco no que é relevante, sem ilusões sobre os homens, o nosso Talleyrand. Frases curtas, divertidas, mordazes, como seu comentário sobre a queda de Rosas e a necessidade de fazer valer os tratados de 12 de outubro:

"O primeiro ato terminou de forma favorável, esperemos que o segundo também."

Nas notas de pé de página, José Antônio registra as piadas e sonetos dedicados ao nariz do ministro Paulino, publicados na imprensa do Rio de Janeiro.

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