segunda-feira, 25 de maio de 2009

"É terrível a falta de um general"

A fofocalha causada pelo envio de Honório Hermeto ao Prata, em missão especial, em outubro de 1851, começou com o próprio embaixador em Montevidéo, desembargador Rodrigo Souza da Silva Pontes, cujos diários de outros tempos, hoje guardados no Itamaraty, reservavam os termos El Rei Honório e Sua Majestade para o ex-ministro da Justiça. (Nesses diários, Paulino também era chamado de ministro da Graça, pela generosa distribuição de condecorações aos amigos...).

A fofocalha piorou porque os inimigos de Silva Pontes no Rio de Janeiro aumentavam os rumores de que a indicação de Hermeto era coisa de Caxias, que só aceitava ir para o sul quando estivesse tudo resolvido. Ou seja, o envio de Hermeto a Montevidéu era uma crítica direta ao trabalho de Silva Pontes. Seja como for, Paulino, gostaria de nomear logo um chefe militar para a missão e, assim, "acalmar" os uruguaios e provocar os argentinos. Teve de se conformar com Honório e deixar Caxias para outro momento. Daí sua frase no título da nota.

É óbvio, olhando o caso em retrospecto, que Caxias só fazia o seu jogo e não ia se pôr em uma situação difícil apenas porque Paulino queria. (Como se sabe, o Brasil pagará um preço por isso mais tarde, mas é outra história).

A missão Hermeto ao Prata, portanto, é puro Paulino, que já contava com a absoluta confiança do Imperador, como se vê pelas notas confidenciais trocadas de 21 para 22 de outubro. O Imperador, por sinal, morria de medo de ver o Brasil chamado publicamente de pérfido nas negociações do Prata, mas concordava com Paulino: a coisa ia mal e devagar por causa do Exército. Leia-se, de Caxias.

Paulino, contudo, não ia desperdiçar um ativo e deixar Silva Pontes fora da jogada. Gastou muitas cartas suavizando o golpe na vaidade do embaixador e explicando a necessidade de ter alguém como Hermeto operando na região, sem as idas e vindas das mensagens por navio. Para enquadrar logo Silva Pontes, uma carta de Paulino descrevia toda a operação com sua tradicional franqueza:

"É preciso aproveitar a ocasião, apertar Rosas, dar com ele em terra, e obter o complemento dos Tratados de 12 do corrente, ligando ao nosso sistema e política aqueles governos" (Carta de 21 de outubro de 1851).

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