terça-feira, 12 de maio de 2009

Um intelectual atlântico

A vida de Paulino José Soares de Souza - a biológica, a intelectual e a política - começa sob o signo da turbulência em escala global iniciada pela Revolução Francesa e continuada em seus ecos atlânticos. As conexões entre Portugal, França e Brasil são o ambiente original de Paulino, que poderia sentir-se à vontade tanto em vilarejos paulistas como em salões de Paris, falando em português ou em francês.

Seu pai, José Antônio Soares de Souza, nasceu na então obscura Paracatu do ano de 1780, que abandona para estudar em Lisboa, que também abandona para chegar a Paris e estudar medicina. As conexões continuam. Casa-se com Antoinette Gabrielle Gibert em 1806, sendo ela filha de um livreiro executado pela Revolução. É em Paris que nasce o futuro Visconde, em 4 de outubro de 1807, com o nome de Paulin Joseph.

Em 1809, José Antônio forma-se em medicina e torna-se médico do exército de Napoleão Bonaparte. Na Paris das guerras napoleônicas cresce o menino Paulino José e a vaga que levou sua família à Europa refluirá no mesmo ritmo. José Antônio deixa a França em 1814 e retorna a Lisboa. Depois, em 1818, volta ao Brasil, mas não para Minas Gerais. Exercerá a medicina em São Luís do Maranhão, de onde assistirá a Independência e as violentas revoltas provinciais.

O novelo, então, desenrola-se novamente na vida de Paulino. Em 1823, com quinze anos de idade, ele segue para estudar Direito em Coimbra e vai levando uma vida relativamente tranqüila de estudante. Em 1828, contudo, novamente é levado de roldão pelas turbulências políticas, sendo preso após a revolução do Porto, provavelmente por ser brasileiro.

Certamente assustado, deixa Lisboa em dezembro de 1828, mas mal chega ao Maranhão e segue para São Paulo, completar o curso de Direito. Forma-se finalmente em 27 de outubro de 1831, em plena efervescência da abdicação de Pedro I.

Nesse breve roteiro, tudo antecipa o Visconde do Uruguai. O poder exercido de forma resoluta. O significado exato e humano da violência política. A escala internacional em que deve pensar o estadista, nascido em Paris, criado no Maranhão, estudante em Coimbra, advogado em São Paulo. Audácia, sempre audácia.
(Imagem: Igreja de Saint Etienne du Mont, onde foi batizado Paulino José, em Paris. Autor: Frederick Nash, início do século XIX. Cortesia da Biblioteca Nacional da França.).

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